domingo, 3 de abril de 2016

"Não me lembro em que momento percebi que viver deveria ser uma permanente reinvenção de nós mesmos — para não morrermos soterrados na poeira da banalidade embora pareça que ainda estamos vivos.
Mas compreendi, num lampejo: então é isso, então é assim. Apesar dos medos, convém não ser demais fútil nem demais acomodada. Algumas vezes é preciso pegar o touro pelos chifres, mergulhar para depois ver o que acontece: porque a vida não tem de ser sorvida como uma taça que se esvazia, mas como o jarro que se renova a cada gole bebido.
Para reinventar-se é preciso pensar: isso aprendi muito cedo.
Apalpar, no nevoeiro de quem somos, algo que pareça uma essência: isso, mais ou menos, sou eu. Isso é o que eu queria ser, acredito ser, quero me tornar ou já fui. Muita inquietação por baixo das águas do cotidiano. Mais cômodo seria ficar com o travesseiro sobre a cabeça e adotar o lema reconfortante: “Parar pra pensar, nem pensar!”
O problema é que quando menos se espera ele chega, o sorrateiro pensamento que nos faz parar. Pode ser no meio do shopping, no trânsito, na frente da tevê ou do computador. Simplesmente escovando os dentes. Ou na hora da droga, do sexo sem afeto, do desafeto, do rancor, da lamúria, da hesitação e da resignação.
Sem ter programado, a gente pára pra pensar.
Pode ser um susto: como espiar de um berçário confortável para um corredor com mil possibilidades. Cada porta, uma escolha. Muitas vão se abrir para um nada ou para algum absurdo. Outras, para um jardim de promessas. Alguma, para a noite além da cerca. Hora de tirar os disfarces, aposentar as máscaras e reavaliar: reavaliar-se.
Pensar pede audácia, pois refletir é transgredir a ordem do superficial que nos pressiona tanto.
Somos demasiado frívolos: buscamos o atordoamento das mil distrações, corremos de um lado a outro achando que somos grandes cumpridores de tarefas. Quando o primeiro dever seria de vez em quando parar e analisar: quem a gente é, o que fazemos com a nossa vida, o tempo, os amores. E com as obrigações também, é claro, pois não temos sempre cinco anos de idade, quando a prioridade absoluta é dormir abraçado no urso de pelúcia e prosseguir, no sono, o sonho que afinal nessa idade ainda é a vida.
Mas pensar não é apenas a ameaça de enfrentar a alma no espelho: é sair para as varandas de si mesmo e olhar em torno, e quem sabe finalmente respirar.
Compreender: somos inquilinos de algo bem maior do que o nosso pequeno segredo individual. É o poderoso ciclo da existência. Nele todos os desastres e toda a beleza têm significado como fases de um processo.
Se nos escondermos num canto escuro abafando nossos questionamentos, não escutaremos o rumor do vento nas árvores do mundo. Nem compreenderemos que o prato das inevitáveis perdas pode pesar menos do que o dos possíveis ganhos.
Os ganhos ou os danos dependem da perspectiva e possibilidades de quem vai tecendo a sua história. O mundo em si não tem sentido sem o nosso olhar que lhe atribui identidade, sem o nosso pensamento que lhe confere alguma ordem.
Viver, como talvez morrer, é recriar-se: a vida não está aí apenas para ser suportada nem vivida, mas elaborada. Eventualmente reprogramada. Conscientemente executada. Muitas vezes, ousada.
Parece fácil: “escrever a respeito das coisas é fácil”, já me disseram. Eu sei. Mas não é preciso realizar nada de espetacular, nem desejar nada excepcional. Não é preciso nem mesmo ser brilhante, importante, admirado.
Para viver de verdade, pensando e repensando a existência, para que ela valha a pena, é preciso ser amado; e amar; e amar-se. Ter esperança; qualquer esperança.
Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas mas sem demasiada sensatez. Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim. Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade.
Sonhar, porque se desistimos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a pena. Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for.
E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer."
Lya Luft


segunda-feira, 3 de agosto de 2015

"Eu tenho medo, tenho sim, de não perceber quando não estou sendo eu mesma, e de assim permanecer, atrofiada no interior de mim. Tenho medo de me perder de quem eu sou, dos meus gostos, do meu jeito, da minha fala e meu discurso. Tenho medo de me esquecer da minha essência e deixar enferrujar as minhas memórias. Medo de repreender as minhas vontades e anular os meus prazeres. Medo de ir contra as minhas ideias, de aceitar o inaceitável, de ceder quando for imprescindível dizer que não. Medo de permitir que me invadam, de ajoelhar e abaixar a cabeça e não conseguir mais me reerguer. Medo de perder a voz, de caminhar atrás dos outros, de gostar do que eu não gosto. Medo de querer e não ter forças para agir, de perder a sensibilidade, de parar de sonhar, de viver como se estivesse morta."

- Karen Curi

domingo, 28 de junho de 2015

"Cheguei a um ponto onde eu não acredito mais que alguém um dia possa me amar. Olha pra mim. O que você vê? Porque eu sou uma máquina de defeitos, que não para de dar problemas, e sinceramente, quem poderia querer alguém que mais tropeça do que anda, que vive mais caído do que em pé? Acho que não.. Até porque ninguém merece estar ao lado de alguém cheio das quedas e recaídas feito eu. Mas vendo bem, acho que me dou melhor com a solidão, ela sempre esteve aqui. Horas dói isso de ser sozinho, horas não. Então eu to aprendendo a aceitar que minha convivência será apenas comigo mesmo." 
-Autor desconhecido (Que me descreveu em cada palavra...)

domingo, 15 de fevereiro de 2015

“Vai menina, fecha os olhos. Solta os cabelos. Joga a vida. Como quem brinca somente. Vai, esquece do mundo. Molha os pés na poça. Mergulha no que te dá vontade. Que a vida não espera por você. Abraça o que te faz sorrir. Não espere. Promessas, vão e vem. Planos, se desfazem. Regras, você as dita. Palavras, o vento leva. Distância, só existe pra quem quer. Os olhos se fecham um dia, pra sempre. E o que importa você sabe, menina. É o quão isso te faz sorrir. E só.”
— Caio Fernando Abreu

sábado, 17 de janeiro de 2015

"Hoje eu consigo olhar pro meu passado como uma espectadora e apontar cada detalhe e cada erro e acerto e cada instante e sensação e fuga. As projeções que fiz, as dependências que criei, as compulsões que tive, hoje são um presente de maturidade e otimismo porque comecei a atrair pessoas, histórias e assuntos mais leves, saudáveis. E criei pra mim uma rotina de paz, e deixei de admirar muita gente e a apreciar outras. E vivi muita solidão, muita solitude, muito aconchego também. Hoje sou tão grata por tudo que doeu, por tudo que sangrou, pelo sono perdido. Retomei o controle da minha vida e estou sendo amada de uma maneira que me deixa mais segura. Perdi meus medos, sobrou apenas a minha fobia de altura. E, por menos que eu tenha escrito, a poesia sempre esteve em mim. Brindo com vocês esta fase nova em que, finalmente, conheci a tranquilidade. Se eu tinha esquecido desta frase, hoje eu posso repetir com o coração cheio de certeza: TUDO VAI DAR CERTO SEMPRE, porque a vida se encarrega das coisas e ela nos compensa com ela mesma."
Marla de Queiroz

sábado, 6 de setembro de 2014

"Ela tem um ar catastrófico, sensual e infeliz. Anda cabisbaixa e parece não saber direito onde pisar, para onde olhar, o que dizer."

- Gabito Nunes

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

“O amor não bate a porta, ele arromba a porta, ele pula janela. Ele não pede pra ficar, não pede permissão, simplesmente chega, fica, enraíza. Ele chega de mansinho, sem razão, sem aviso.
O amor liberta, é leve, é dádiva, tem algo de divino, é vida, é choro, é sorrisos.
Ele desconcerta, mas também conserta, nos tira o fôlego, nos devolve a fé, esperança e a alegria de viver. O amor não pede licença, não manda recados, chega de fininho, sem avisos, simplesmente entra no coração e faz moradia como se fosse um velho conhecido.”
(Nanda Marques)